DE PETRÓPOLIS À TERRA DO FOGO PELA ESTRADA
Virgínio Cordeiro de Mello, morador de Petrópolis, nos brindou com esta expedição, realizada por volta de 2001.
Tenho lido muitos livros de viajantes, que se dedicam a documentar e informar aos leitores, os detalhes de cada etapa da viagem, com ênfase no dirigir, no transpor obstáculos físicos e as estatísticas, tão importantes para quem ainda está na fase de planejamento da sua própria viagem.
O Virgínio, por ser um homem apaixonado pela leitura, nos brindou com uma forma de escrever, inesperada para um tema mais adequado a documentário. Como que desfiando um romance, o autor nos leva do início ao fim, indo e voltando, do passado ao presente, falando dos lugares, das pessoas, da história que se esconde atrás das paisagens que percorreu durante a viagem.
Em nenhum momento do livro, me senti ansioso por obter as respostas que todo viajante busca. Elas chegaram a mim, naturalmente, com o prazer da leitura. Este mesmo ritmo, o autor impôs a sua viagem.
Como ele mesmo diz:
“A viagem é o ir e voltar, e o chegar é apenas uma parte de todo este processo”
São muitas as passagens curiosas. Rodando com uma Kombi modelo Clipper, fabricada em 1979, com motor de 1600cm³, alimentada por 2 carburadores, movida a gasolina, fez adaptações voltadas a enfrentar o terreno e as estradas que conseguiu pesquisar, na fase de planejamento da viagem. Trocou pneus para enfrentar os 900 kms de rípio (pedras vulcânicas), instalou uma tela de proteção no parabrisas, pelo mesmo motivo, e cuidou do aquecimento da água dentro do veículo, já que o frio à frente seria bem intenso.
Internamente oferecia o conforto suficiente para acomodar o casal (Virgínio e a Helena) e a filha Gabriela, incluindo cozinha, dormitórios e banheiro completo. Um autêntico motorhome, nas dimensões de uma Kombi.
Alguns trechos que selecionei:
“… Observei que, no início de qualquer jornada, eu tenho um aviso dos deuses, na forma de um pequeno problema, que pode significar a possibilidade de acontecer um problema maior. Seria como uma advertência para termos cautela, uma demosntração de nossa vulnerabilidade a partir do momento em que deixamos o nosso habitat natural…”
“…Uma das grandes vantagens de viajar como caracol, com a casa junto, é de estarmos em contato direto com os da terra. Nos campings, a maioria dos frequentadores é de famílias do local. As pessoas acostumadas ao contato com a natureza são, naturalmente, simples e afáveis, mesmo não sendo, às vezes, gregárias….”
A pouca oferta de fotos (concentradas no fim do volume) se deve aos elevados custos das produções coloridas (4 cores), que no processo gráfico da época, se tornam impeditivos para um projeto particular. Além disso, o autor ainda usava câmeras tradicionais, com filmes negativos, que só mostravam os resultados após sua revelação. Muito diferente das soluções digitais modernas.
Recomendamos aos amigos a leitura deste ótimo livro. Independente da distância em anos (13) da experiência vivida pelo autor e sua família, é enriquecedor e estimulante participar com eles da empreitada, revestida de muita coragem, alegria e descobertas.
Editado pela Griphus. ISBN 978-85-7510-023-3 – 1ª edição em 2002 e 2ª edição em 2007