Motoqueiros, uma das pragas do mundo moderno, veio para transformar o já difícil trânsito das cidades, num inferno de proporções impensáveis.
A forma como a legislação deu asas e permitiu o avanço descontrolado dessa categoria de habilitação transformou o convívio entre as partes (veículos, pedestres e motos) num típico faroeste urbano.
Em nome da rapidez de resultados, a flexibilidade e dinâmica de manobra da motocicleta vem sendo usada criminosamente, seja contra todos ou contra si próprio. Deixamos bem claro, que há sim, uma grande distinção entre motociclista (motorista sobre 2 rodas) e motoqueiro (despreparado, inconsequente ou mesmo suicida, com uma arma sobre rodas).
Os números (out/18) impressionam por sua expressividade. Hoje, no Brasil, temos mais de 72 milhões de motoristas habilitados.
Destes, 12% (8,4 milhões) são habilitados, exclusivamente para conduzir motocicletas, ou seja, categoria A.
A taxa de crescimento de novos habilitados nesta categoria é de 10% ao ano, enquanto que as demais categorias mantém-se estáveis. Implica dizer que o que se vê hoje de caos no trânsito é uma amostra do que teremos mais adiante.
As imprudências e desrespeitos são incontáveis. Grande parte suportada pela total falta de fiscalização e controle por parte dos órgãos responsáveis e de seus agentes de trânsito. Onde está o erro? Vamos ver mais adiante.
A faixa contínua determina que as ultrapassagens são proibidas naquele ponto (nem vamos falar que é uma ponte sem acostamento), levando todos a manter uma fila indiana.
Mas isso não se aplica ao motoqueiro. Considerando que moto é sinônimo de agilidade, nem pensar em respeitar esse detalhe da legislação.
Pelo menos o motoqueiro da foto não está ultrapassando pela direita, como também é muito comum.
A figura do corredor entre as faixas de rolamento, que permite o escoamento das motos em velocidade muito superior aos carros, tornou-se uma das maiores aberrações do trânsito. E pasmem, essa prática é ilegal, mas vem sendo adotada como forma de organizar ou mesmo agrupar as centenas de motos que nesta atitude, infringem também a velocidade máxima permitida no trecho.
Aos carros resta identificar onde está o corredor e posicionar-se de forma a permitir que aquele fluxo ocorra sem prejuízos materiais, que dirá físicos. Acontece que a anarquia também faz parte do ato. Se o motorista do carro protege a esquerda, pode acabar sendo surpreendido por um novo corredor à direita. Da mesma forma que surgem, somem e reaparecem sem prévio aviso, lógica ou regra. Quem trafega com MotorHomes fica mais exposto ainda, já que ocupa quase que integralmente a faixa (então, como abrir espaços?). Ao motorista resta enfiar seu pneu no buraco à frente, já que pode produzir um acidente ao desviar, seja para que lado for, mesmo que dentro de sua faixa de rolamento. A possibilidade de haver um motoqueiro onde não devia estar, é muito grande.
Outra situação muito perigosa e geradora de muitas mortes, seja por acidentes como por brigas decorrentes, é a mostrada abaixo nas fotos.
É o “saindo do nada” e o “aparecendo do nada”. Alguns estudiosos colocam a culpa no famoso “ponto cego”, onde o motorista não consegue ver a moto. Mas que moto? A brutal diferença de velocidade entre os equipamentos, combinada com a imprudência do motoqueiro, inviabiliza que o motorista do carro tome atitudes defensivas. No segundo 1 não havia moto no retrovisor, no segundo 2 ela cruza o retrovisor, mas o motorista está olhando para a frente, no segundo 3 a moto aparece ao lado, não importa qual (o condutor decidiu naquele instante). Isto tudo acontece, repito mais uma vez, acima da velocidade permitida no trecho (mas quem disse que moto deve andar dentro dos limites de velocidade?).
Se o fluxo está bom e todos os carros estão circulando próximos do limite permitido, porque a moto necessita ultrapassar estes limites e continuar produzindo cenas como essas?
─ Então a questão não está na lentidão do trânsito, podemos concluir!! O que é isso afinal? Coisa boa não é, e as estatísticas tem demonstrado que os resultados são nefastos.
O quebra molas foi criado para reduzir a velocidade dos veículos com vários objetivos. Pode ser para coibir a velocidade em locais de risco, ou preparar o motorista para a presença de uma faixa de pedestres. Em nenhum destes casos o motoqueiro age conforme o esperado. Aliás, muito ao contrário. Aproveita e acelera para vencer a elevação com alguma emoção extra. Aqui em Petrópolis, o pedestre posiciona-se em frente a faixa e o fluxo de carros para, permitindo sua travessia. Todos, menos o motoqueiro que, não pode ou não tem tempo, ou mesmo destreza, para realizar uma das manobras exigidas na prova de condução junto ao DETRAN. Parar e colocar o pé no chão.
Como equilibristas compulsivos, mantêm as motos rolando o máximo possível, para não necessitar fazer a parada completa, e assim, vão aos poucos tomando a faixa e acelerando o pedestre, que mais parece um obstáculo. Observe na foto abaixo, o sinal vermelho e as 2 primeiras motos ainda em movimento.
Essa curiosa dificuldade (parar e colocar o pé no chão) produz situações de conflito frequentes. O diálogo entre os carros quase nunca é compreendido pelos motoqueiros. Um veículo aguardando a oportunidade para cruzar ou entrar numa via recebe autorização para entrar com segurança pelo veículo que trafega na mão. Ao iniciar a conversão, um motoqueiro imprudente corta (em velocidade muito superior), tanto faz pela direita ou esquerda, e atravessa a frente do veículo em conversão, aproveitando para deixar ainda alguns xingamentos de rotina.
Quem poderia imaginar que este motoqueiro, que vive num plano dimensional próprio, haveria de contribuir e permitir uma conversão segura para o veículo OPONENTE (assim são vistos os carros, ônibus e caminhões pelos motoqueiros).
Dia destes o Adauto, amigo de estrada, postou um gráfico combinado com uma pergunta e um desabafo, que copio a seguir. ─ Você já foi xingado por um motoqueiro?
“A maioria dos motoristas de automóveis (aí incluídos os motorhomes) já foi. Existem mesmo casos de morte associados a briga de trânsito entre motoqueiros e motoristas de automóveis. Na maioria das vezes é porque o motorista fechou o motoqueiro. Hoje mesmo vi um motoqueiro enraivado xingando o motorista porque não dava para ele passar entre 2 carros, que estavam legalmente posicionados. Mas será mesmo que eles fecharam o motoqueiro? Um veículo ao trafegar numa pista tem o direito de usar toda a área entre as faixas marcadas no solo. Este também é um direito e obrigatoriedade para os motoqueiros. Por onde a maioria dos motoqueiros trafega? Trafega entre os veículos invadindo as faixas que por direito já é do motorista do veículo. Isto provoca muitas mortes no trânsito, quer por conta de acidentes ou por brigas. Aonde está o poder público? Tem-se que fazer uma campanha pública orientando os desavisados motoqueiros sobre seus direitos e posterior penalização caso invadam as entre faixas de rolamento de trânsito.”
E o que os governantes e engenheiros de trânsito andam produzindo de soluções?
Áreas específicas para que as motos se posicionem para aguardar a travessia de pedestres e faixas exclusivas de rolamento.
A primeira ajuda a organizar, mas não substitui a educação, além de ter limite de lotação (ao criar esta área, o poder público está contra a Lei, pois para alcançá-la o motociclista vai ter que trafegar entre os veículos de forma ilegal. Vai trafegar por um espaço já ocupado legalmente por outro carro).
A segunda é interessante, mas cobrir toda a cidade com uma solução assim, seja nos cantos, seja no centro das vias, demanda vontade política e muito investimento. E onde não houver fiscalização, não vai haver cumprimento.
No início do artigo, perguntamos: ─ Onde está o erro?
Eu diria, na EDUCAÇÃO, no TREINAMENTO. Um habilitado exclusivamente na condução de motos (CNH A), nunca vai entender, conhecer ou respeitar os limites de qualquer outra forma se não a conhece por experiência.
O condutor habilitado com CNH AB tem a perspectiva do motorista de carros, sabe de suas limitações e pode usar esse conhecimento para agir defensivamente, antevendo e evitando produzir situações que possam resultar em acidentes.
O motociclista AB usa a moto como um veículo de deslocamento, tal qual o motorista faz com seu carro, estando subjugado a todas as leis que regem esse movimento.
Já o motoqueiro, isolado na sua visão limitada o que é a vida sobre 2 rodas, não é capaz de interagir com o meio em que se desloca. Vive num quadrante próprio em que só existem os seus direitos, nunca deveres.
Dentre as soluções que podemos vislumbrar, podemos enumerar:
- Educação nas escolas sobre trânsito, desde muito cedo. A criança é parte deste caos, convivendo com a necessidade de atravessar ruas e avenidas para estudar, circulando em ônibus escolares, vivendo a rotina diária de ir e vir, exposta aos perigos sobre rodas.
- Aumentar a sensibilidade dos radares, para capturar as motos com pouco ferro, que fazem do limite de velocidade um parâmetro inexistente.
- Extinguir a categoria A exclusiva, condicionando sua obtenção a X números de horas aula em automóveis.
- Fiscalização ostensiva. Multas e pontos distribuídos sem economia. Numa sociedade permissiva como a nossa, o bolso é o melhor limitador.
- Campanhas públicas educacionais. O dinheiro gasto com o atendimento, salvamento e o tratamento de acidentados é alto e inócuo. Hoje morrem 12mil pessoas ao ano, por acidentes com moto. As internações em hospitais públicos teve aumento de 115% pelo mesmo motivo e custam quase R$30 milhões ao SUS.
Estamos produzindo um exército de aleijados e aposentados precoces por invalidez, que confundiram a finalidade da motocicleta. A ilusão de liberdade, da estrada livre e sem rumo, da força, da potência e da velocidade sobre 2 rodas pertence ao lado romântico da história. O marketing que vende essa sensação está desfocado do verdadeiro uso da motocicleta nos dias de hoje. No YouTube existem inúmeros vídeos valorizando as imprudências destes motoqueiros, onde a coragem exposta a roletas russas valorizam indivíduos classificados por eles mesmos de INSANOS. Não vou dar espaço aqui, mas as imagens são reais e do dia a dia destes ditos ases, velozes e furiosos.
Enquanto isso, cabe a nós motoristas de carros, motorhomes, etc.. desenvolver habilidades extra sensoriais para escapar do triste envolvimento em acidentes com motos. E, mais ainda; contar até 10 ao ser xingado. Dê ao seu anjo da guarda tempo para que ele possa realizar as funções necessárias, diluir as tensões e soprar para longe qualquer possibilidade de confronto.
Deseje vida longa, saúde e luz para quem lhe xinga. Acredite!! Eles não sabem o que fazem!!! Muitos vão dizer que é fácil falar. Concordo! Mas precisamos tentar, para não virar estatística.
Boas estradas a todos.
Excelente matéria… realmente existe grande diferença entre motoqueiros (chamados cachorros loucos) e motociclistas (que normalmente são motoristas de carro também). Todos nós (motociclistas) já tivemos um momento de motoqueiro, mas logo caímos na real e voltamos para nosso mundo, da uma vergonha danada!rs Eu sinceramente nunca entendi aquele espaço exclusivo para moto parar nos semáforos, justamente porque as motos precisam circular entre os carros para chegar lá… Acredito que com o aumento constante da frota, tanto de carro quanto de moto, ficará cada vez mais difícil de solucionar este impasse entre as categorias, se não for pelo respeito e educação mútua! Vamos fazer nossa parte!
Um abraço!
Obg Adolfo. Tempos melhores hão de vir.
Gostei da matéria, mas venho aqui como um MOTOCICLISTA que sou. Possuo CNH na categoria AB. Mas essa sugestão de que mesmo para uma pessoa q irá se habilitar a pilotar motocicletas seja obrigatório fazer aulas em automóveis eu acho que não seria muito válido. Acredito que uma boa instrução, SIM, vai ser de grande ajuda. A conscientização dos "motoqueiros" tem que ser feita pra que acabem com toda essa bagunça que muitos fazem no trânsito. Mas por outro lado, tem que cobrar SIM dos condutores de automóveis, vans, ônibus, caminhões, carretas e etc. (não estou generalizando com relação aos barbeiros) Muitos destes são imprudentes e irresponsáveis ao conduzir seus veículos. Por isso eu digo, TODOS SEM EXCEÇÃO devem ser cobrados quanto a seus erros no trânsito. Obrigado pelo espaço pra poder comentar! Abraço! Lennon-RJ
Obg pela interação Lennon. É mesmo um tema polêmico e cheio de senões.Não há como generalizar, mas as cidades grandes, subjugadas ao império da velocidade de atendimento, de demandas, criou uma chave de cadeia, para quem precisa ganhar se sustento. Essa relação trabalhista com os motoboys é uma das principais causas deste estado. E o pior, 90% deles sem cobertura legal, CTPS ou Seguro Saúde. Imprudência temos de todos os lados, seja por incapacidade, humor, etc… Sim, todos são iguais perante a lei. Mais uma vez obrigado e grande abraço.
Bom…
Tenho habilitação AB.
Não só tenho habilitação como também dirijo e piloto.
Sua matéria tem boas considerações, mas, nem de longe, é imparcial.
Que tal uma matéria que aborde também:
– a utilização de celular ao volante
– o uso de fones de ouvido ao volante
– a não utilização das luzes indicadoras de mudança de direção
– as mudanças de faixa do tipo "ultrapassagem de F1"
– a leitura de jornais/revistas ao volante
– as luzes do veículo apagadas à noite (agora é obrigatório nas BRs também)
– a interpretação de que luz amarela no semáforo significa "Acelera motoqueiro! Se tu parar na minha frente não terei tempo de parar."
– o lixo jogado pela janela do veículo
– o caminhão, o ônibus e até mesmo o carro vazando óleo
– Etc, etc, etc…
Enfim… Como disse acima, você fez boas considerações. Mas a melhor delas se aplica não só ao trânsito (independente de qual o veículo conduzimos), como também ao país em que vivemos: FALTA EDUCAÇÃO [e RESPEITO À VIDA].
Opa Lennon. Primeiro obrigado pela interação. Suas considerações são parte da discussão. Todos tem um ângulo de visão e respeito isso. As irresponsabilidades estão presentes em todas as categorias, mesmo nos ditos profissionais (D e E), que são mais ainda perigosos, já que costumam ser sinônimo de tragédia.
Não foi esse o meu foco. Os motoqueiros tb estão o tempo todo com o capacete desplugado e com um celular amassado na orelha enquanto pilotam, provavelmente recebendo outra entrega, ultrapassagens e trocas de faixa tb não são uma exclusividade dos motoristas de carro.
Acredito que o grande vilão é a diferença de velocidade entre os equipamentos. O império da velocidade de atendimento e entregas, criou uma chave de cadeia, para quem precisa ganhar seu sustento. Essa relação trabalhista com os motoboys é uma das principais causas deste estado. E o pior, 90% deles sem cobertura legal, CTPS ou Seguro Saúde.
Vc disse tudo EDUCAÇÃO, CIVILIDADE e RESPEITO À VIDA. Afinal somos todos pais de família, filhos e potenciais amigos. Não há guerra, o que temos é trânsito que pode ser vencido com esses 3 aspectos. Mais uma vez muito obrigado pela interação. Grande abraço.
Discordo do posicionamento de que o piloto AB seria mais prudente, conheço otimos motociclistas apenas A muito melhores que os AB.
Temos que falar tbm que a prova prática do Detran é ridícula, incapaz de preparar para o trânsito. Nos pilotos responsáveis nos especializamos por conta própria, através de cursos de condução defensiva. Um exemplo disso é que a Federação de Motoclubes do RJ oferece vários treinamentos para seus filiados.
Ler uma matéria dessa generalizando toda uma classe me faz sentir um pouco ofendido.
Opa Juliano. Primeiro muito obrigado pela interação. No há intenção de generalizar. Apontei para o despreparo de uma falange dentro da classe maior. Eu tb sou motociclista. Comecei nas duas rodas tem mais de 40 anos. Fui piloto de cross, fiz muito asfalto como estradeiro, mas nunca precisei ganhar meu sustento com a moto. O império do prazo para as entregas e retiradas, sejam de documentos, produtos ou comida é o principal responsável por este estado de arte. Uma massa de trabalhadores rodando sob pressão (alguns com cabeça boa, outros mesmo descompensados pela vida), sem CTPS, sem seguro saúde, trocando seu tempo por sustento precisam da proteção da lei e por ela serem organizados.
Conheço o trabalho dos motoclubes. Não houve qq citação nesse sentido e pf, não se sinta ofendido. Aliás ofender não foi o foco. Ali tentei mostrar a ausência do estado. Mais uma vez. muito obrigado por expor suas opiniões. Essa é a forma civilizada de conviver. Grande abraço
Carlos, excelente artigo! É um tema bem complicado, é como mexer com vespeiro. Há países em que filtrar o trânsito é permitido, como no Reino Unido e no estado da Califórnia, mas, o motociclista tem que saber respeitar os carros e não forçar situações só pelo fato de ser mais ágil.
Realmente é um problema Educacional. Eu tenho carta de moto há muito menos tempo do que de carro, e, de alguma forma isto me deu uma certa noção para poder conduzir a moto com mais prudência e diligência, mas, infelizmente esta não é a realidade da maioria dos casos.
Há também que pontuar que motoristas apenas de categoria B invalidam na sua maioria a existência do motociclista, e, com o advento dos smartphones, muita gente anda por aí conferindo celular, GPS, mensagens de texto, redes sociais enquanto estão parados, parando ou na largada, isso quando não em movimento. O problema é realmente educacional, e, de conscientização. O problema é que na maioria dos casos, o culpado puxa a sardinha pro seu lado e tenta justificar-se do erro, e, infelizmente, assim segue sendo como é.
Obg pela interação Ernani. Muito ponderada sua colocação. Bom senso, equilíbrio e civilidade. Características que vamos colhendo com a educação. Abs