Relembrando março/2000 – Esta semana na Ilha Grande foi planejada para ser feita por trilhas e acampamentos, percorrendo toda a ilha. Fizemos uma programação baseada no circuito anti-horário, diferente do que normalmente é feito. No mapa, mais adiante no texto, está desenhado o circuito que realizamos com início e fim na Vila do Abraão.
Fica o aviso aos leitores que essa investida ocorreu no ano de 2000, quando era permitido acampar em quase toda a extensão da ilha. Hoje (2016), são poucas as áreas de camping permitidas e muitas praias estão com acesso bloqueado, em defesa do meio ambiente.
Para obter este mapa em alta, clique aqui.
- Vermelho – as trilhas que fizemos a pé
- Roxo – as incursões “bate e volta” que fizemos após montar acampamento
- Amarelo – deslocamentos embarcados
- Magenta – acampamentos com pernoite
Nossa estratégia previa levarmos tudo que fosse necessário, incluindo comida, para todos os dias. Não tínhamos certeza de onde poderíamos reabastecer.
Portanto, a carga foi mais do que a necessária, mesmo assim, muito bem arrumada dentro de 2 mochilas (obra da Gleidys).
De início, estávamos carregando 30 quilos cada um, que nos pareceu razoável a primeira vista. Dirigimos do Rio até Mangaratiba, onde estacionamos nosso carro em área paga, com alguma segurança incluída, muito embora tenham havido poucos casos de furtos, já que é certo que seus donos vão demorar muito para retornar. Conhecemos 4 opções para deixar o carro. Clique aqui, ligue, confira as tarifas e faça sua escolha.
Embarcamos para a travessia até a ilha, no cais de Mangaratiba. Hoje a operação é de responsabilidade da CCR. As barcas tem capacidade para até 500 passageiros, o valor da passagem atualmente (set/2016) é de R$15,00. Para saber os horários, clique aqui. Um projeto de ordenamento está em fase de licitação, que deve, à partir de janeiro/2018, cobrar pela entrada na ilha e limitar em até 500 mil visitantes ano.
1º DIA – Chegamos em Abraão e fomos direto para o Camping do Palmas (amigo dos tempos do paraquedismo) que, aparentemente, não existe mais. Ali deixamos alguns itens desnecessários na trilha (chaves e documentos do carro,…).
Antes de iniciar nossa trilha, fizemos uma incursão bate-volta (6kms), para conhecer as ruínas do aqueduto e a cachoeira Feiticeira. O calor já deixou claro como seriam os dias que tínhamos pela frente. Nada mais adequado que começar com um bom banho de cachoeira.
Equipamos e seguimos para nosso primeiro acampamento, planejado para o lugar chamado de Saco do Céu (5,3kms). Hoje não é mais permitido acampamentos no lugar. Montamos barraca embaixo das árvores na praia de Fora. Existem outras como a da Caravela e do Amor. O lugar é rico em vida marinha e manguezais.
Ali viviam poucos moradores tendo a pesca como meio de sobrevivência. Hoje a economia é baseada no turismo, conta com energia elétrica, pequeno mercado, escola e posto de saúde. A gastronomia também é destaque atualmente. As águas tranquilas, garantem a presença de muitas lanchas, barcos e veleiros de todo tamanho.
Um dos grandes prazeres da Ilha Grande é o frequente encontro da água doce com a salgada. Mantendo nossa prática de deixar amigos por onde passamos, registramos a hospitalidade de D. Teresa e sua filha Olívia. Até a próxima Saco do Céu.
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2º DIA – A trilha que pegamos não é oficial. É usada pelos locais para cruzar direto para Bananal (5,5kms), sem fazer o contorno por Freguesia de Santana. Essa situação persiste até hoje.
Em razão da pouco ou quase nenhuma marcação, você precisa estar bem atento aos detalhes. Nessa época não tínhamos GPS ou celular com navegador. A orientação foi visual e por bússola. Essa trilha tem uma elevação de 280 metros por 5,5 kms de extensão e pode ser classificada de nível médio em esforço.
Em Bananal alugamos um barco para visitar e mergulhar na Lagoa Azul (4,6kms) e relaxar da trilha que foi um pouco tensa por conta das incertezas de rumo.
Na volta, seguimos de barco direto para Ubatubinha (8,3kms), onde pretendíamos acampar e passar a noite. Quando lá chegamos, fomos surpreendidos com um reduto de ricos com seus lanchões. Até para conseguirmos um atendimento respeitável no restaurante foi difícil. Depois de muito aguardar por uma cerveja, percebemos que não éramos bem recebidos ali. E de fato não nos sentimos bem.
Mesmo com fome e cansados, reequipamos e tocamos adiante, até Praia Longa (2kms), onde pudemos ter tranquilidade para montar nossa barraca.
Ali tivemos paz e mais uma vez, tínhamos ao nosso lado um encontro de água doce com água do mar.
A Gleidys passou a noite preocupada com a possibilidade da maré subir e nos pegar de surpresa, já que a faixa de areia era muito curta. Por mais que essa hipótese estivesse mapeada e descartada, nada aliviou sua preocupação.
3º DIA – Partimos para nosso terceiro dia, com o trajeto bem mais reduzido por conta da furada em Ubatubinha, relatado acima.
A trilha até Praia Grande de Araçatiba (2,6kms) ficou bem pequena, o que acabou sendo muito positivo pelas razões que contamos mais adiante.
Chegando em Praia Grande fomos muito bem recebidos pelos locais. Acampamos dentro do quintal de um morador, em frente a praia, com acesso a prato feito, banheiro e bom papo.
Como estávamos bem descansados, resolvemos fazer o bate volta à Gruta do Acaiá (4,6kms). Livres de peso, tocamos para nosso destino.
Não sabíamos que a subida para a gruta era muito puxada e com o sol de quase meio dia queimando o percurso sem qualquer sombra, chegamos bem desanimados com a expectativa da volta. Mas isso era assunto para depois.
O acesso à gruta é bem estreito. Você literalmente se espreme por entre as paredes para chegar até o fundo, onde pode ver o mar, abaixo de seu nível. Muito interessante.
A turma da claustrofobia desiste da empreitada. A sensação é mesmo estranha, num ambiente apertado e de fuga lenta (se é que me entendem). Alguns mais preparados e talvez, cabeças ocas, se arriscam em atravessar por baixo da fenda e sair no mar em torno de 6 metros da tona. Nada de incrível, mas já ocorreram fatalidades por conta da ansiedade e do pavor.
Hora de pensar na volta, que já começava com a subida até a entrada da gruta. Por sorte e, com certeza simpatia, fizemos amizade com uma família que estava ali de veleiro, vindos de Angra em férias. Isso nos rendeu uma carona de volta, muito especial, até Praia Grande (5,3kms). Lamentamos muito ter perdido os nomes e a referência dessa turma tão gente fina. Só nos sobrou esta foto. Desembarcamos mesmo na água. Nossos amigos seguiram viagem para a estranha Ubatubinha.
Aproveitamos o resto do dia na praia, gastando prosa com nossos anfitriões de Araçatiba. O jantar foi de muita cerveja e peixe frito (Araçatiba é um lugar de pescadores por profissão). Dormimos no nosso quintal bem protegido. Uma chuvinha de verão veio para tirar a maresia da barraca e deixar a noite mais fresca.
4º DIA – Partimos cedo (sempre buscando ter tempo de sobra para contornar imprevistos) com destino a Praia de Provetá (3,7kms), onde fizemos uma visita rápida.
Provetá é hoje a segunda maior comunidade da Ilha Grande. A pesca ainda é a principal atividade econômica, mas o turismo vem assumindo a sua importância ano a ano.
Na praia de 500 metros ficam ancorados os maiores barcos pesqueiros de alto mar da região. Todo o pescado é descarregado em Angra dos Reis.
Com sol alto, tocamos para Aventureiro (3,1kms). Este trecho da trilha teve uma curiosidade adicional. O volume e a quantidade de cigarras deixavam alguns pontos quase que ensurdecedores.
Com o sol nos acompanhando todos os dias, nada como chegar numa praia linda como Aventureiro e desfrutar de uma cerveja bem gelada?
Em 2000, ano dessa nossa expedição, podíamos acampar diretamente na praia.
E este foi mais um de nossos campings diretos na areia.
Basta uma sombrinha disponível, embaixo da amendoeira. Logo nos instalamos e nos apossamos deste lugar abençoado pela natureza. Diz-se que Aventureiro conta hoje com 100 moradores fixos. Quando lá estivemos, em 2000, eram bem menos. Uma preciosidade que merece ser preservada.
5º DIA – Tristes em deixar Aventureiro (merecia mais uns 2 dias), tocamos bem cedo no sentido de Parnaioca (9kms), nosso próximo destino e acampamento.
Contornamos os 600m do Costão do Demo (o nome tem origem na grande dificuldade de ser vencido com a maré alta ou ressacas) com cuidado. Estava bem lambido e escorregadio. A Gleidys relaxou no último lance de pedra e uppsss!!
Chegamos a linda Praia do Sul que é separada da Praia do Leste pelo Mangue Branco. Toda essa área é uma Reserva Biológica, que não pode mais ser acessada atualmente.
Todas as precauções objetivando proteger esse bioma são muito bem vindas. Em 2000 éramos poucos, mas já se notavam os maus hábitos alguns visitantes.
O Mangue Branco com suas águas quentes e cor coca cola, resultado da forte presença de matéria orgânica em decomposição, foi considerado em perigo, em razão da intensa e descontrolada visitação. Uma ação necessária em nome da preservação. O encontro de suas águas com o mar produz contrastes tonais e de temperatura deliciosos.
No fim da Praia do Leste, inicia a trilha que leva à Parnaioca. Neste ponto encontramos um casal de franceses em pleno naturismo. Deixamos os dois na sua paz sensorial e subimos a trilha, pensando em comer somente no destino. A trilha, como todas, muito agradáveis de percorrer.
Já em Parnaioca, fomos muito bem recebidos por um casal local (não temos mais os nomes), que nos arranjou um espaço para nossa barraca e ainda nos serviu um prato feito inesquecível, preparado em fogão a lenha (essa área de camping foi desmontada pelo IBAMA).
Depois de banhos de mar e muita prosa, o cansaço dos quase 10kms de trilha do dia, pegou forte. Para quem pretende sair cedo é hora de apagar. Na foto abaixo, mais um lindo encontro de rio e mar.
6º DIA – O planejamento inicial era de acampar em Dois Rios, ou em Lopes Mendes, mas algumas dificuldades acabaram por nos levar até Palmas. De Parnaioca a Dois Rios foram 6,8kms. Conhecemos as ruínas do presídio, sem dedicar muita atenção a um ambiente que não tem uma carga positiva de energia.
Descemos até a praia e lá, sem atrativos que nos convencessem a ficar, decidimos tocar para Cachadaço (3,4kms) adiante, com todo o equipamento. Cachadaço é um enseada bem pequena, mas muito, muito especial, com presença constante de barcos que levam e trazem turistas.
Enquanto refrescamos decidimos o futuro de nosso dia. Achamos melhor seguir para Lopes Mendes num dos barcos. A hora já estava adiantada e a preguiça de subir a trilha de volta, muito erodida, nos convenceu. Conseguimos uma boa pechincha num barco que ainda tinha vagas e lá fomos para a praia de Lopes Mendes por água(3,4kms).
Nosso desembarque foi complicado. O barqueiro não quis atravessar a arrebentação.
Foi necessário usar nossas habilidades de cariocas para surfar os marolões sem molhar mochilas e equipamentos.
Ali, depois de apreciar a beleza do lugar, decidimos, mais uma vez, em tocar adiante até Palmas. Decisões que se baseiam em ambiente. fizemos uma avaliação dos vizinhos de acampamento que teríamos e julgamos apropriado não montar nossa tenda ali. Pelos cálculos, com mais 3kms de trilha (2 horas) chegaríamos no destino Palmas. E assim foi.
Atravessamos a Praia do Pouso (acima) e continuamos contornando o mar até ter a vista da Praia de Palmas. Chegamos no Camping Palmas já entardecendo. Ali sim tivemos tranquilidade para montar nossa barraca, tomar um bom banho e comemorar o dia longo.
Aliás, pouco falamos de banhos. Sempre que acampamos fora de campings (praias) ,foi possível negociar um banho. Os valores foram mínimos e muito honestos. A comida e café fizemos usando nosso fogareiro à gás. Levamos 2 refis. Gastamos um deles totalmente e o segundo voltou quase novo.
7 e 8º DIAS – Aproveitamos que nossa barraca estava bem protegida e a estrutura de camping, para descansar na Praia de Palmas por mais um dia.
Contabilizamos nossas andanças, fizemos anotações daquilo que ainda lembrávamos e decidimos seguir para Abraão de barco, já que a trilha por terra seria mínima.
Assim poderíamos contornar o pouco de costa que ainda estava a nossa frente.
De Palmas para a Vila de Abraão (9,3kms) saem e chegam muitos barcos. Na manhã do 8º dia, recolhemos acampamento e subimos na traineira que nos levaria para Abraão, onde havíamos reservado nosso cantinho no camping do amigo Palmas (muita coincidência de Palmas).
Ficamos mais um dia em Abraão, para conhecer um pouco da vila, já que na chegada (8 dias atrás) não foi possível. A impressão de desorganização, descontrole, muito cheiro de esgoto já eram notados. A praia não era própria para banho e muito disputada com nossos amigos alados. Não sei dizer hoje, mas naquele ano de 2000, Abraão tinha a função de entrada e saída somente.
Números e Estatísticas
Trilha | 49,5 quilômetros em 7 dias. Média de 7,10 kms dia. Máximo dia 13,2 kms |
Navegação | 30,9 quilômetros em navegação costeira. |
Acampamentos | 7 acampamentos, sendo 5 selvagens (areia da praia). |
Problemas e furadas | De uma forma geral não passamos por dificuldades que mereçam destaque.
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Segurança | Sem qualquer anotação neste quesito. Estávamos no ano de 2000. |
Farmácia | Só usamos repelente e curativos para bolhas produzidas pela sandália de caminhada. Resolvido com o uso de uma meia. |
Animais | Vimos muitos lagartos, 1 camaleão, alguns macacos (não sei a espécie), 1 cobra fugindo e 1.000.000.000.000.000 de cigarras. |
Chuva | Somente um dia de chuva, durante o anoitecer. Sol o tempo todo. |
- Acabamos de retornar à Ilha Grande, depois de 17 anos dessa visita. Revisitamos os cantinhos que mais nos traziam saudade. Veja aqui.
Adorei o roteiro e as dicas.
Ilha grande é um lugar que eu sonho conhecer!
Obg pela visita Juny. Sim. A ilha é especial. Agora com todos os controles ambientais, muitos dos lugares acima estão preservados e com visitação proibida. Achamos que não tem outro jeito mesmo. Divirta-se por lá.
Sou pastor Homero passei esse período de carnaval em provetá, conheci a trilha para praia vermelha, araçatiba e também fizemos para o aventureiro, estamos marcando com amigos para nesse ano fazermos a ilha toda se Deus permitir, parabéns pelo trabalho de vcs, muito bem explicado
Obg Pastor Homero. Vai ser uma experiência única. Boa trilha. Abs
Acabei de conhecer um pedacinho de Ilha Grande. Adorei! E com esse relato de vocês com certeza vou voltar pra conhecer o que for possível do que vocês descreveram. Obrigada! 🙂
Oi Fabíola. Olha que coincidência. Nós estávamos conversando que já era hora de voltar mais uma vez à Ilha Grande. Um pedacinho de paraíso que merece muitas investidas. Volte sim. Bjs e abs.
olá gostei muito dos teus relatos e foi maravilhoso curti bastante as fotos de voces e hoje pude fazer umas comparações de como era o lugar quando voce fez e como esta hoje.
começamos em 2022 a fazer a volta a ilha e ja fizemos em 2023 e pretendemos fazer todo ano ,pude reparar que em 2022 a trilha estava mais marcada e com mais sinalizações coisa que em 2023 estava um pouco mais fechada e sem manutençoes e que venha 2024 que iremos fazer de novo.
Parabens pela tua historia e experiencia foi maravilhosa ler e curtir.
Opa Fábio.
Hoje já não podemos fazer tanta coisa quanto em 2000, quando fizemos nossa primeira volta. Que bom que gostou. Se escreveu ou fez algum álbum com as fotos, manda o link pra gente acompanhar, ou mesmo o Instagram.
Grande abraço.